Não basta ler que as areias das praias são quentes; quero que meus pés nus as sintam.

domingo, 15 de abril de 2012

FAMILIA GONÇALVES DO AMARAL - II

Ao lembrar de meu pai vem-me a memória as estórias que contava dos tempos de antanho. Tempo em que, segundo ele, um homem que andasse sem chapéu era chamado de louco.

"Seu João Amaral" como era conhecido, era o filho mais velho de Virgílio Gonçalves do Amaral e Margherita Baracchini.
Virgílio e Margherita casaram-se em Silveira Martins em 30 de outubro de 1895 e formaram uma família numerosa, cuja árvore genealógica estamos construindo no site http://w.w.w.gennon.com.

Meu pai nasceu em um lugarejo chamado "Capoerada", pertinho da Água Negra, em Santa Maria RS, no ano de 1896.
Estavamos no final do século dezenove. A Europa estava em plena fase da Expansão Industrial e do aparecimento das grandes teorias científico-filosóficas,com Darwin, Freud, Marx, Nietzsche, Conte. O Brasil recém proclamara a República e no Rio Grande a Revolução Federalista ainda ressoava pelos pampas.

Ainda piazito, meu pai ganhava a vida naquelas carretas rangedeiras de duas juntas de bois, carregando lenha, toras de madeira, alimentos e utensílios diversos.
À noite, mateando ao redor do fogo de chão, onde borbulhava um arroz-de-carreteiro, contavam estórias de seres telúricos e de assombração. De cobras gigantescas que rolavam penhasco abaixo, quebrando galhos das árvores e arrastando tudo de roldão.
Para dormir havia os pelegos arrumados sob o lastro da carreta.

Soprava de quando em quando
Um vento quente do norte.
Ansim é que muda a sorte
De um pobre que anda carreteando.

Lá pras bandas do poente
Formou-se uma barra escura;
A felicidade não dura
E é china que não se roga;
Não há maneia nem soga
Que a possa manter segura.

O temporal era certo.
Quem isto sabe não erra;
Um cheirinho ansim de terra,
Que vem de lá não sei donde,
Mas que se busque uma encerra.

Foi ansim como les conto,
Quem muita coisa já viu.
O velho João Amaral
Inda não ficou maceta
E repinica a roseta
Nas paletas d’um bagual.

E aqui le ponho o arremate
Na presilha desta história.
Que um outro tenha a vitória
De cantar nalgum fandango
O mais que fizeram os Amaral

(Adaptação do Poema Campestre "Antonio Chimango" – de Amaro Juvenal - Editora Globo.



Rapazito de olhar estradeiro ganhou a estrada, ele e o irmão Francisco, em busca de vida melhor.
Foram dezessete anos longe da família, sem nenhuma carta ou notícia.
Entraram para a RFFSA, então VFRGS, lá pelos idos de 1920, em Erebango. Depois mudou-se para Erechim onde permaneceu até a aposentadoria lá por 1960.
Ao visitar os pais, depois de 17 anos de ausência, chegou dizendo ser mascate, não tendo sido reconhecido por ninguém da família. Bem, ninguem não, pois a minha avó Margarida ao vê-lo reconheceu imediatamente  e  exclamou:
- Você  é o meu filho Jango, que não vejo a muitos anos.

Meu pai contava que no período das guerras e revoluções tinha que fazer a ronda em trechos isolados, cortes e viadutos ao longo da Estrada de Ferro. Solito, só ele e seus pensamentos. E das inúmeras vezes em que teve que enfrentar bichos e assombrações.

Era um homem singular.
Na década de 1950 tornou-se vegetariano e ecologista.
Lembro de um inverno rigoroso, não sei precisar o ano, que apareceu perto de nossa casa uma cobra, uma jararaca muito grande, que mal conseguia rastejar devido ao frio. A reação de todos nós foi de matá-la. Meu pai, passou a frente de todos, e com dois galhos recolheu o réptil e o levou para junta de uma touceira de capim onde ficara protegido da neve.

Mais tarde abandonou o vegetarianismo, mas não a ecologia; leu muitos livros; tornou-se membros dos Rosacruzes e  finalmente transformou-se em um filósofo.
Faleceu em 1977.

Um comentário:

  1. Prezado Tito, obrigado por escrever. Parabéns também pelos teus blogs, bom material e farto. Infelizmente não tenho a ligação dos Gonçalves Amaral que procura com aqueles que publiquei, nem outra Amaral que também pesquiso. Talvez tenham relação com a família "Duarte do Amaral", bem antiga no RS e com ramos no Alegrete e arredores. Aconselho a procurar a Cúria de Santa Maria a fim de procurarem o casamento de Virgilio Gonçalves do Amaral e esposa, avançando-se assim na ascendência deles. Fico aqui, saudações, Diego.

    ResponderExcluir